O que são areias monazíticas, as famosas areias pretas de Guarapari

Tenho certeza de que você já ouviu o termo ‘Guarapari Cidade Saúde’. Um dos principais motivos dessa denominação para nossa cidade é a concentração de areia monazítica em várias de nossas praias.

O nome “Monazítica” faz alusão à sua raridade. Monazita é um mineral que produz gases com efeito de aliviar dores e, de acordo com várias pesquisas, a radioatividade presente em nossa região é benéfica para a saúde, estimulando a defesa do corpo e funcionando como uma ‘vacina’ natural.

A Monazita também foi homenageada em várias construções históricas de Guarapari, incluindo o Radium Hotel, que foi um dos maiores e mais luxuosos hotéis/cassinos da época.

Guarapari é uma cidade radioativa

A legislação brasileira considera aceitável a dose máxima de radiação de 2,2 microSieverts (mSv), mas nas praias de nossa cidade, esse número está bem acima. A praia de Meaípe registrou os maiores índices, chegando a marcar 40 mSv. A praia da areia preta fica em segundo lugar, com um índice que varia de 10,2 a 15 mSv, enquanto a praia das Castanheiras registrou um índice considerado normal. Isso significa que em toda nossa cidade existe um pouco de radiação natural que é prejudicial à saúde.

Areia monazítica e a Guerra Nuclear 

Muito se fala sobre a venda e contrabando de centenas de toneladas de areia entre as décadas de 1890 e 1960, sob o pretexto de encher os lastros dos navios, mas na verdade, eles eram contrabandeados para extrair o tório (minério radioativo) e produzir Bombas de Urânio 233.

É neste contexto que a monazita brasileira se torna relevante para os EUA. Eles, que já dominavam a produção da U-233 (bomba), iniciaram negociações com o governo de Getúlio Vargas para adquirir o maior volume possível de monazitas, com Guarapari sendo o principal ponto de exportação.

Este envio continuou por pelo menos mais 15 anos. Entre especulações e fatos, há quem afirme que a areia Monazítica de Guarapari foi utilizada na fabricação da bomba que devastou a cidade japonesa de Hiroshima em 1945. Além do uso na indústria nuclear, as areias também foram amplamente enviadas para a Europa para a produção de luminárias a gás.

O que é MIBRA?

Em 1890, o engenheiro John Gordon começou a extrair monazita em terrenos da Marinha com permissão oficial. Em 1906, a “SOCIÉTE MINIÉRE ET INDUSTRIELLE FRANCO-BRASILIENSE” instalou em Guarapari a usina “MIBRA – Monazita Ilmenita do Brasil”, onde as areias eram separadas por lavagem e eletroímã.

A MIBRA operava incessantemente, com três turnos de operários que recebiam salários baixos, desconhecendo a utilização e destino das areias de Guarapari. A empresa pagava 4% do valor da areia bruta em taxas ao governo. Em 1960, quando o governo aumentou o valor da taxa de extração, os proprietários abandonaram tudo e queimaram a documentação.

Composição da areia monazítica 

ILMENITA – preta.

Titânio, ferro, magnético, outros metais e vem sempre acompanhada de rutilo e hematita. Usada na indústria metalúrgica.

GRANADA – vermelha

É encontrada em abundância em Guarapari, em pequenos cristais, o que a torna inaproveitável para a fabricação de joias. Contém, em proporções variáveis, o alumínio, o ferro, o cobre, o cálcio, o magnésio, o manganês e outros metais. Usada na fabricação de vidros especiais para lente microscópios, telescópios e lentes fotográficas.

ZIRCONITA – cinza, tem zircônio.

É utilizada na indústria ótica e de vidro, na indústria química e metalúrgica, na fabricação de esmaltes porcelanizados, louças de primeira qualidade, cerâmicas sanitárias, etc

MONAZITA – Amarela escura. 

É um fosfato de diversos metais, que contém Tório, do qual se extrai o Hélio e outros metais, usados na desintegração atômica e ricas em Terras Raras que entram na fabricação de pedras de isqueiros e das baterias dos telefones celulares.

O Brasil detém a 2º maior reserva de Terras Raras do mundo, calculados em 29 milhões de toneladas, só perdendo para a China. O termo Monazita vem do grego MONAZEIN e significa “estar solitário”, o que determina sua raridade.

Praia da areia preta e ao fundo a praia das castanheiras na década de 50.

Por fim, indico um filme de produção independente, produzido em Guarapari, pela Gerência Filmes, ele foi gravado em 2010, com uma câmera Cybershot. O filme é uma sátira sobre a empresa MIBRA, a maior responsável pelo contrabando das nossas areias.