Na Floresta Antiga, uma colina era governada por corvos há gerações. Quando um grande incêndio devastou as árvores mais velhas, o Corvo Negro assumiu o poder.
“Foi o Corvo Cinza anterior que permitiu o acúmulo de folhas secas!”, gritava Negro do alto de seu poleiro dourado, construído com as madeiras que sobreviveram ao fogo.
Os animais doentes se amontoavam sob a Árvore da Cura, que minguava por falta de cuidados.
“Lembram-se quando Negro prometeu que nossa saúde seria prioridade?”, sussurrou um esquilo febril.
“Silêncio!”, ordenou o Texugo, ministro de Negro. “Estamos muito ocupados organizando o Grande Festival das Plumas!”
A cada lua cheia, Negro promovia festas extravagantes que atraíam pássaros de florestas distantes.
“Estas celebrações trarão sementes de outras terras e encherão nossos celeiros!”, proclamava, enquanto desviava as melhores sementes para seu próprio ninho.
Os animais doentes observavam as luzes e músicas da festa, incapazes de participar.
A Coruja Velha, que testemunhara muitos governos, comentou: “Curioso como há recursos para fazer a floresta brilhar para estrangeiros, mas não para curar quem vive nas sombras dela.”
“Mas o Corvo diz que as festas trazem prosperidade”, argumentou uma jovem raposa.
“Sabe por que chamamos isso de ‘A Fábula da Colina dos Corvos’?”, perguntou a Coruja com um brilho irônico nos olhos. “Porque apenas em fábulas os animais acreditam que festas curam doenças e que corvos se importam com algo além de suas próprias penas.”
A raposa refletiu, compreendendo que talvez a verdadeira mudança precisasse vir não dos corvos, mas dos próprios habitantes da floresta.
